MECANISMO DE FORMAÇÃO DA BILIRRUBINA

Nas células do sistema reticuloendotelial, ou seja, nos macrófagos presentes no
baço e no fígado, as hemácias senescentes fagocitadas são degradadas no citoplasma
dessas células sendo divididas em globina e heme. Este, sem o ferro, sofre a ação da
heme oxidase ligada ao citocromo P450, que a converte em biliverdina. Esta, por sua
vez, é convertida em bilirrubina pela enzima bilirrubina redutase. A bilirrubina
formada por essas células, ou seja, a bilirrubina não conjugada ou indireta não é solúvel
em soluções aquosas em pH fisiológico e, por isso, é transportada pelo plasma ligada à
albumina. Assim, a bilirrubina não conjugada e ligada à albumina é transportada até ao
fígado onde é captada por transportadores existentes na membrana dos hepatócitos. Dentro do
hepatócito a bilirrubina liga-se às ligandinas (ou glutationa-transferases B) que impedem o
efluxo de bilirrubina de volta para o plasma, permitindo também o transporte da mesma para
o retículo endoplasmático. Aqui a bilirrubina vai ser solubilizada através da conjugação com
uma ou duas moléculas de ácido glucurónico. Esta acção vai ser catalizada pela bilirrubina
uridina-difosfato (UDP) glucuronosiltransferase (também conhecida por UGT1A1). A
bilirrubina assim conjugada difunde passivamente a membrana do retículo mas para
abandonar o hepatócito tem de ser activamente secretada para os canalículos biliares por um
transportador da membrana, a multidrug resistance protein 2 (MRP2). A bilirrubina conjugada
excretada na bile vai ser libertada no duodeno, atravessando o intestino delgado sem sofrer
modificações e sem ser absorvida pela mucosa intestinal. Quando atinge o ileo distal e o cólon
vai sofrer a acção de B glucuronidases bacterianas sendo hidrolizada de novo a bilirrubina não
conjugada, que por sua vez vai ser reduzida pela flora bacteriana a urobilinogénios. Cerca de
80-90% destes vão ser excretados nas fezes, quer sobre a forma não alterada, quer oxidados a
urobilinas/estercobilinas (pigmentos alaranjados que dão cor às fezes). Os restantes vão ser
passivamente reabsorvidos para a circulação portal e re-excretados pelo fígado, com uma
pequena fracção a escapar a captação hepática e a ser excretada na urina (ver fig.8). Quando
por alguma razão o metabolismo da bilirrubina está comprometido esta vai se acumular no
plasma e depois nos tecidos. Esta acumulação de bilirrubina vai dar um importante sinal
clínico: a icterícia – coloração amarelada de pele e mucosas causada pela deposição de
bilirrubina. Inicialmente e com baixos níveis de bilirrubina plasmática, esta vai ser mais
marcada nas escleróticas oculares devido ao seu alto conteúdo em elastina, molécula com alta
afinidade para a bilirrubina. Por essa razão a melhor forma de despistar clinicamente a
presença de icterícia é através da observação das escleróticas.